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ENSAIOS
Um Homem Entra no Inferno
Autor:Nuno da Rocha
05/abr/2023
Nuno da Rocha [sem data].

 

“Um homem entra no Inferno. Sem saber por quê, aproxima-se de suas portas. Entra. Na estranheza de sua existência, vê-se a si próprio como nunca tinha se visto.”

 

Esse foi o mote que dei ao escritor Clément Bondu para que construísse uma narrativa em torno dessa imagem dantesca. Queria que a narrativa fosse como uma fina película que envolvesse o material musical. Não que ocupasse um plano de imposição sobre a percepção de quem a segue, mas que oferecesse um pequeno conforto perante a música, que pode ser sempre tantas coisas diferentes para cada um dos que a escutam. Primeiro, o homem que ali entra encontra um conjunto de vozes — como um coro quase imperceptível na sua mensagem — que o recebe e o traz para dentro daquele espaço. Depois, ele ouve uma só voz. Serena, mas firme. Parece que fala com ele, que lhe é dirigida. Mais tarde, as vozes que o receberam começam a se tornar menos difusas. O espaço é como uma torre de Babel. “Eu pequei”, diz uma das vozes. “Do you know what Charon told me?” [Sabe o que Caronte me contou?], pergunta outra. Gradualmente, o espaço torna-se cada vez mais familiar para o homem. Como se ele já fosse dali. Como se pertencesse ao lugar. Como um sem-teto após a primeira semana na rua, depois que se torna “normal”. Já imaginaram a primeira semana de um sem-teto na rua? Aquela voz serena volta a falar com ele. Apresenta-se. Meio indiferente, parece. E o homem que ali chegou e que a escuta vê nela um espelho de si próprio. Através de cada uma das palavras, em cada uma delas. No conforto de sua não existência, percebe que, afinal, não chegou ao Inferno.

 

Encomenda conjunta da Fundação Osesp e da Fundação Gulbenkian de Lisboa, Inferno — Concerto para Multi Instrumentista, Coro e Orquestra terá sua estreia latino-americana nesta temporada de 2023 na Sala São Paulo.

 

 

NUNO DA ROCHA

Doutorando em composição pela Royal Academy of Music, Londres, Reino Unido.

 

 

Sobre o compositor

Nuno da Rocha nasceu em 1986. Estudou composição com Vasco Mendonça, Carlos Marecos, Luís Tinoco, Carlos Caires e António Pinho Vargas. Licenciou-se em composição [2008-11] pela Escola Superior de Música de Lisboa. No verão de 2009, participou da 19ª Internationale Sommerakademie, na Áustria, onde trabalhou com o compositor Nigel Osborne, o maestro Michael Wendeberg e o reconhecido grupo de música contemporânea Klangforum Wien. Em 2010, esteve presente no 16th Young Composers Meeting, em Apeldoorn, Holanda, com a Orquestra de Ereprijs. Em 2012, alcançou a terceira colocação no Concurso de Composição da SPA/RTP, com a peça para orquestra barroca O Que Será do Rio Without John Cage?, cuja estreia pelo grupo Divino Sospiro, com direção de Massimo Mazzeo, ocorreu no Festival Jovens Músicos desse ano.

 

Foi finalista do TENSO Award 2014, em Copenhague, Dinamarca. Ainda nesse ano, estreou a peça I Could Not Think of Thee As Piecèd Rot, com a Orquestra Gulbenkian e a soprano Inês Simões, sob direção de Magnus Lindberg. Em 2015, estreou a peça Restart, encomenda da Fundação Calouste Gulbenkian, na abertura da temporada da casa. Nesse ano, foi
o Jovem Compositor em Residência na Casa da Música (Porto), de cuja experiência resultaram três encomendas: para o Trio Portucale, para o REMIX Ensemble e para a Orquestra Sinfónica Casa da Música. Em 2016, foi um dos compositores residentes na Song and Creation Residency, promovida pela Academia do Festival de Aix-en-Provence, na França. Durante a residência, estreou a peça Ecce Puer, para mezzo soprano, barítono e piano preparado. Em 2017, foi um dos compositores nomeados para a TOTEM, organizada pelo Festival d’Avignon, na França. Em 2018, estreou a peça Recorded Concerto no Festival Jovens Músicos. Em 2020, estreou a peça Inferno, para coro, orquestra e multi instrumentista, encomenda da Fundação Calouste Gulbenkian e da Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo. Em 2022, estreou a ópera O Tempo (Somos Nós), parte do projeto Ópera na Prisão, com a participação de jovens reclusos do Estabelecimento Prisional de Leiria para Jovens. Em janeiro de 2023, irá estrear a ópera Paraíso, encomenda do Centro Cultural de Belém, em Lisboa, com a companhia de dança espanhola La Veronal.

 

 

* Desde 2015, a Fundação Osesp e a Fundação Calouste Gulbenkian (Lisboa, Portugal) desenvolvem o projeto SP-LX –Nova Música. Além de Nuno da Rocha, a inciativa já acolheu obras inéditas dos brasileiros Aylton Escobar, Celso Loureiro Chaves, João Guilherme Ripper e Marlos Nobre, e dos portugueses Vasco Mendonça e Luís Tinoco.

 

GRAVAÇÕES RECOMENDADAS

 

O que será do rio

Divino Sospiro
Massimo Mazzeo direção artística
MPMP, 2022

 

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Coro Infantil do Instituto
Gregoriano de Lisboa

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Pedro Ferro piano
José Valente acordeão
Tangente, 2016